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terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A PESCARIA

 

Quando eu tinha 13 anos, eu morava com a minha avó em uma cidade do interior de SP chamada Rio Claro, é bem próxima da capital, cerca de 1h30m. Eu morava lá porque meu pai morreu e minha mãe viajava muito a trabalho, e para não atrapalhar os estudos acabei ficando com minha vó. Certo dia estava em uma chácara com ela, nós íamos sempre lá, tinha um riacho que passava bem próximo as plantações e eu gostava muito de pescar la. A chácara era de um amigo da minha vó, mas nós tínhamos porteira aberta sempre. E muitas vezes estive lá sozinho, minha vó não ficava preocupada pois sabia que eu não seria louco de nadar no rio próximo, eu sabia que tinha correnteza e era muito fundo. Então eu ficava a beira pescando. Um dia estava muito calor, chamei um colega para pescar comigo, não conhecia bem ele, nos encontramos apenas 2x na chácara, ele era sobrinho do dono, e lá fomos nos, chegando no riacho ele me disse:
Você pesca aqui???  E eu disse: Sim, sempre pesco aqui e pego peixe.
E ele falou: Ah não, gosto de pescar no rio mesmo, la no fundo do sítio.
E foi correndo na frente.
Eu não gostava muito de ir la, pois sabia que era perigoso.
Chegando la nos acomodamos em baixo de uma árvore e ficamos conversando e esperando o peixe pegar a isca.
Quando senti  algo puxar a linha. Eu não tinha grandes equipamentos, apenas uma vara de bambu mesmo e anzol. Ele tinha uma carretilha muito boa, e boa isca também, mas quem acabou por pegar algo primeiro fui eu. Começamos a puxar sem carretilha pois a única que eu tinha havia quebrado e colocávamos a camisa na mão para não cortar e puxamos a linha bem rápido.
De repente a linha se partiu e vi alguma coisa muito grande afundar. Então disse a ele, estranho parece que não se mexia, apenas era pesado. E ele disse, eu vou ver. Eu gritei; está louco! De jeito nenhum você entra nessa agua, aqui e muito fundo!! E eu não sei o que era aquilo.
Então ele riu e foi pulando na água e falando:
- Ahhhh deixa de ser mole. Eu conheço esse rio como a palma da minha mão. E mergulhou.
Meu coração gelou, era a primeira vez que íamos juntos pescar e eu nunca havia nadado no rio grande.
Eu fiquei na beira olhando, e ele subiu rápido e disse, você precisa me ajudar, você não sabe nadar? E eu disse, sei sim, mas não vou entrar não, e ele disse tem uma coisa muito legal aqui e eu quero pegar, se for um tesouro? Se for algo que vale muito dinheiro?
Eu olhei pra ele com desconfiança e fiquei meio sem jeito, ele parecia bem confiante e a correnteza não estava tão forte ali, dava para nadar de boa.
Então resolvi entrar so um pouco, e fui entrando ate que perdi o medo e mergulhei de vez.
Realmente tinha algo grande ali e parecia ser de metal, fiquei tentando levantar, mas a agua do rio era muito escura em baixo e eu não via o que realmente era. Mergulhei mais uma vez, e conseguimos desencalhar quando aquele objeto veio a tona, era grande e circular, um metal diferente, parecia meio azulado, meio amarelado, um metal que nunca tinha visto, aquilo era realmente grande, mas dentro da agua tudo fica mais fácil levantar, levamos ate a beira e aquilo era pesado também, não dava para tirar da água só nós dois. Ele não queria compartilhar, ate poder ver o que tinha dentro daquilo, na verdade não sabíamos nem se era algo de abrir. Na beira do rio, pude ver melhor e aquilo era algo como uma tampa de panela grande, mas na parte de baixo tinha uma cúpula redonda que cabia no máximo uma criança. Ficamos tentando achar uma abertura, mas não  tinha e ficamos ali sem conseguir arrastar aquilo para fora, e também não conseguíamos virar, resolvemos levar para dentro do rio novamente e virar o objeto dentro da água. E assim fizemos. Ai sim pudemos ver que aquilo tinha uma abertura na parte de baixo da cúpula. Quando tentamos abrir nada. Então Eu e meu amigo colocamos aquele objeto bem apoiado nas pedras na beira do rio e ele correu na casa do sitio para pegar algo pontiagudo para tentar abrir. Neste instante enquanto ele foi na casa, algo se mexeu naquilo, dei um pulo para trás e fiquei olhando. Uma pequena fenda se abriu e vi algo pular dentro daquilo. Fiquei meio assustado, mas pensava ser algum peixe que entrou naquele objeto. E fiquei olhando. Neste momento chegou o cachorro do meu amigo, e ficou latindo na beira do rio, olhando para aquilo, derrepente uma garra saiu de dentro do negocio e agarrou o cachorro, esse grunhiu de dor, e foi sugado para dentro do objeto. Fiquei em pânico. Um monte de sangue começou a sair pela abertura do objeto, então vi que aquilo não era natural, e muito menos da terra. Corri em direção a casa e meu amigo já vinha chegando com um pe de cabra, eu estava pálido e ele disse:
- Que foi cara? Que cara é essa?
E eu gaguejava tentando dizer:
- Seu cão. Seu seu seu, ele, pegou. Matou, vamos correr, embora daqui. Rapido.
E ele me segurou. Como assim? Meu cachorro não!
E foi em direção ao objeto.
Então eu corri atrás dele com a intenção de segura-lo mas ele foi rápido e eu estava em choque.
Ele chegou e o objeto já havia afundado no rio novamente, a beira do rio uma marca de sangue do cachorro, ele ficou olhando e pulou na agua.
Então eu gritei: NNNNaaaaaoooo!!! Ele pegou seu cão. Ele vai te matar. E ele nadou e mergulhou, mas aquilo já não estava mais lá.
E assim Foi minha última pescaria no rio.
Desde então contamos para todo mundo, e todos diziam que era conversa de pescador. E ele disse que seu cachorro morreu la, e as pessoas pensavam que era uma onça ou algo parecido que havia pegado o cão, mas nós sabíamos ou melhor eu sabia.
E ate hoje nunca mais tive coragem de entrar em nenhum lugar de água. Na escuridão do fundo de qualquer lago ou mesmo do mar, não conhecemos nem um terço do que existe submerso e isso me apavora.

Fim 

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